segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Debate sobre trotes dos calouros divide Conselho de Ensino da UnB

Como tratar o trote com os calouros no próximo semestre? Criar normas punitivas ou discutir outra forma de saudação aos novos alunos? Não houve consenso na reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) realizada nesta quinta-feira, 20 de janeiro. A aprovação de uma cartilha educativa sobre o trote, que já foi utilizada no 2º semestre de 2010, alimentou ainda mais a discussão. Os conselheiros divergiram sobre o que fazer com os exemplares: jogar fora ou aproveitá-los em outro debate. A reunião do CEPE deverá continuar na próxima quinta-feira, 27.

Andréa Maranhão, do Instituto de Biologia (IB), disse que todo o processo educativo precisa de punição. “Como mãe, a gente faz isso com os nossos filhos”, afirma. “Existe um vácuo normativo, e a gente não tem pelo que se pautar". Ela conta que a estratégia do IB é preparar todos os semestres uma semana de atividades, com visita aos laboratórios e palestras para receber os novos estudantes.

Simone Perecmanis, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV), disse que o envolvimento da coordenação e as atividades preparadas pelos cursos não substituem a prática do trote. “Nós fazemos a nossa calourada com visita à fazenda e churrasco, mas os alunos querem ter o rito de passagem”, disse. “Eles acham o trote uma coisa normal. Um aluno comentou que sua própria mãe o havia amarrado num poste e pintado seu corpo. Esse é um problema cultural.”

Marina Flores, representante do Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães (DCE), defendeu que combater o trote com punição não é a postura mais adequada para uma universidade e sugeriu que sejam utilizadas medidas pedagógicas a longo prazo. “Conscientizar é mais importante principalmente para aqueles que acreditam na educação, como eu acho que é o caso aqui”, afirmou.

Neio de Oliveira, do Centro de Excelência em Turismo (CET), acredita que deve ser definida uma postura institucional contra o trote antes que ocorra um problema grave. “Precisamos de norma que garanta punição, mas como ainda não temos, essa prática ainda segue acontecendo. Aqui não é a casa da mãe Joana”, opinou.

O vice-reitor da UnB, João Batista, sugeriu que a universidade fizesse uma parceria com a Secretaria de Educação do Distrito Federal para trabalhar o tema com os alunos desde a infância. “Esse assunto é um problema que precisa ser trabalhado com todos, inclusive com os pais a longo prazo. Eu sou radicalmente contra o trote, mas punição não resolve”, disse.

Houve apenas um ponto de consenso: o trote não é um problema só dos estudantes. “Existe uma corresponsabilidade entre estudantes e universidade”, disse Raul Cardoso, representante do DCE.

CARTILHA EDUCATIVA – O material informativo que fala sobre o trote foi criticado pelos conselheiros, que apontaram erros de concordância, inconsistência conceitual e fotos inadequadas. Rachel Nunes, decana de Assuntos Comunitários (DAC), reconheceu que a cartilha teve problemas, mas defendeu sua reutilização em alguma atividade acadêmica. “O problema aqui não é conceitual”, disse. “Jogar fora é um desperdício de dinheiro público”, disse.

Rafael Moraes, assessor do gabinete do reitor e organizador do documento, disse que reconhece os erros, mas que a cartilha foi aprovada por uma revisora de textos da universidade e que poderia ser aproveitada em debates sobre o tema. “Não pode ser simplesmente jogada no lixo.” Denise Bomtempo, decana de Pesquisa e Pós-Graduação, argumentou que não pode haver na universidade um material institucional com erros de português. “É melhor não distribuir”, opinou.

Hartmut Günther, do Instituto de Psicologia, disse que não era responsável por um material mal feito e nem por desperdício de dinheiro público. “É preciso pesquisar mais sobre o tema já que estamos na academia com tantos professores”, disse. Günther apontou as fotos utilizadas no material de 16 páginas como outro problema. Alegou que se a UnB quer demonstrar que é contra o trote precisa mudar as fotos do encarte. “A foto da capa mostra estudantes sentado com a cabeça baixa, mas as próximas fotos mostram alunos rindo e felizes”, exemplificou.

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