terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A arte transforma a vida

Por Kleber Galvêas


Durante o "Trote Cidadão" no Centro Universitário Vila Velha (UVV), em 2010, fui o palestrante da noite de recepção aos calouros dos cursos daquela universidade. O tema proposto por eles - "A arte como transformadora da vida" - me entusiasmou.

Foi interessante, para mim, pintor local, mostrar para quase 400 estudantes atentos à influência da perspectiva artística em nossas vidas. Eles iniciavam a última etapa da formação acadêmica, que visa preparar cidadãos para servir à sociedade em diferentes áreas profissionais no mundo objetivo.

A maneira eficiente para transformarmos a vida pela arte é provocar, interessar e sensibilizar pessoas na troca de experiências. Essa relação se faz através dos diferentes tipos de arte do espaço ou do tempo, mas ela só acontece quando alguém se sensibiliza apreciando as obras criadas pelos artistas e necessariamente captadas por um dos sentidos do observador. Não existe arte sem público.

A vivência proporcionada a qualquer indivíduo por algo abstrato ou concreto elaborado por outra pessoa, que toca o espírito propiciando uma percepção estética destes objetos ou fenômenos criados, é arte. A natureza da arte não está na obra em si, mas na relação obra/observador. Amor e arte são impossíveis sem parceiros. Daí o grande interesse dos artistas pelo público e pela crítica.

Ser artista não é pertencer a uma classe especial de homens, mas ter atitude e interagir, pois todo homem comunicador é um artista especial.

Um exemplo prático de como a vivência de experiências artísticas e o interesse por elas são úteis à nossa percepção do mundo, melhorando nosso cotidiano, ilustrou a palestra:

As famílias "A" e "B" moram em apartamentos, "1" e "2", na cobertura de um prédio. Ambas gostam de esporte, shopping, igreja, parque de diversões, praia... Os filhos estudam na escola do bairro e os pais têm empregos equivalentes. Vizinhos de porta têm ótima convivência no corredor, elevador, área de lazer e confraternizações, mas sem intimidade.

Nos dois apartamentos, quando as famílias "A" e "B" lanchavam, preparando-se para saírem para mais um dia de escola e trabalho, acidente semelhante ocorreu nas duas mesas: o café foi entornado sobre as toalhas.

A família "A" arma o barraco condenando veementemente o infrator. Discutem sobre falta de modos, trabalho adicional, preço da água e sabão, fatos desagradáveis do passado... E a discussão continua dentro do carro na saída da casa. O motorista com a atenção prejudicada bate no ônibus estacionado. Todos lamentam o prejuízo e o incômodo, esquecendo do café derramado.

A família "B", além das atividades em comum com os vizinhos, gosta de frequentar museus, exposições de arte, bibliotecas, teatro, audições de música, poesia, e conversar sobre esses assuntos. Quando a mancha de café se espalhou sobre a toalha, alguém apontou a semelhança dela com uma pintura vista por todos em exposição recente. O diálogo transcorreu sobre a beleza dos castanhos da mancha, formas que surgiram e suas metamorfoses.

Conscientes do trabalho adicional de lavarem a toalha, o acidente em "B" não extrapolou a sua própria dimensão. Antes propiciou momentos agradáveis de percepção estética e convivência. Tendo a sensibilidade lapidada pela arte, a família "B" chegou tranquila à escola e ao trabalho. Com espírito leve e agradável sensação de paz, iniciou um bom dia.

Kleber Galvêas é pintor

Fonte: A Gazeta

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